Toda criação genuína é experimental em relação à sua linguagem. Ou seja, não poderia ser genuína sem questionar e perturbar a linguagem que emprega, chegando, em casos extremos, a produzir novos códigos de relação entre seus signos, muito distantes dos atuais ou vigentes. Não apenas na expressão de novos conteúdos semânticos (a nova informação) extraídos do caos mediante a experimentação radical exercida sobre a realidade e sua representação consensual, nas linguagens, como também na maneira em que são expressos esses conteúdos. O amor (conteúdo) é e sempre será o mesmo em todos os tempos e em todos os lugares. Sem dúvida, em cada tempo e em cada lugar encontra maneiras diversas de ser enunciado, de tal forma que sempre nos aparece como que luminoso e renovado ao nosso entendimento (a forma de expressão).
Existe uma grande gama de poemas que não usam palavras, que se situam fora do verbal, tais como a grande maioria dos poemas letristas ou os poemas fônicos, que apenas registra sons, fonemas ou ruídos provocados pelos órgãos da dicção ou os poemas visuais, que apenas inscrevem letras ou segmentos de palavras com a concorrência ou não de representações visuais que, de acordo com esta atitude, ficam fora do cânone literário, não sendo considerados poesia (nem mesmo artes plásticas ou música). E ainda, outro setor da crítica só os considera poemas se detectar a presença de elementos lingüísticos, ou dessa aparência, que tenham relação com a escritura e com a dicção em razão dos aspectos que comporta a linguagem em concordância com certas teorias gerais da linguagem, para as quais bastariam pequenos sinais lingüísticos, visuais ou sonoros, para que o leitor (ou ouvinte) possa reconstruir a expressão semântica e concretizar, assim, a comunicação.
A leitura é a verdadeira vedete dessa série singular. Por um lado nos oferece a possibilidade de decidir por nós mesmos o valor vivencial que esses poemas têm para nós em relação a nossos repertórios de conhecimentos e experiências pessoais. E, por outro, ao questionar a poesia tradicional, nos obriga a criar, ou estabelecer novos modos de interpretação, o que nos situa como co-criadores pois, ainda que Tchello d'Barros nos ofereça novas formas, parcialmente incompreensíveis, também nos brinda, dentro de cada poema, os elementos necessários para sua interpretação. Apenas temos que descobri-los...
Clemente Padin
Outubro 2006
Montevidéo - Uruguay
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