domingo, 22 de fevereiro de 2015

Texto crítico de JOSÉ ALOISE BAHIA




CONVERGÊNCIAS ADITIVADAS

José Aloise Bahia*

“O visual caracteriza-se por manter a palavra como apêndice da imagem ou a imagem como apêndice da palavra. Dessa forma, uma é o complemento da outra. O que conta é a mensagem passada ao leitor.” [Hugo Pontes, sobre a diferença entre o poema visual e o poema processo, em entrevista para Carlos Herculano Lopes, caderno Pensar, jornal Estado de Minas, Belo Horizonte, MG, 28Jul2007]

Convergências é um projeto dinâmico, atua em várias cidades do território brasileiro, propondo um exercício estético estimulante. Uma ressonância da arte contemporânea, privilegiando um contato mais direto com a investigação, discussão e a reflexão intelectual sobre a linguagem plástica. Conteúdo, forma, expressão e unidade num ato de aproximação/desaproximação, palavra/imagem e imagem/palavra, de Tchello d’Barros com os detalhes gráficos trabalhados de maneira clara/escura e escura/clara, ratificando a polifonia de uma vasta produção e experimentação artística na construção de sentidos.

Preto no branco. Branco no preto. Circulantes. Seus poemas visuais são aditivados pelo combustível das letras intertextuais em movimentos contínuos, influências, diálogos (Jasper John, Andy Warhol, Basquiat, Augusto de Campos, Julio Plaza, Vik Muniz, etc.) e os ruídos, interferências que perturbam os resíduos de uma cultura imediatista, controlada por determinados recursos técnicos, marcas registradas e seus códigos de barras. Uma sociedade degenerada, materialista, individualista, violenta e desencantada, que já não tem tempo para a contemplação necessária. O diagnóstico encarcerado em cercas e muros urbanos, não é indiferente para o artista, pois as produções de Tchello d’Barros, cada qual com a sua autonomia, são relações para sair da invisibilidade e um campo fértil para a perseverança. Noutro sentido, uma incursão inevitável na linguagem, a necessidade de um Neo-Humanismo.

Toda letra é uma imagem. Toda imagem, uma letra. Suplementação. O conjunto de imagens aponta várias mensagens aos espectadores, correlacionando forma e conteúdo, elementos essenciais da plasticidade, na expansão da narratibilidade. Todavia, a visualidade intrínseca das obras também aponta a magnitude estética ao rejeitar a espetacularização, tematizando a tensão letra/imagem e imagem/letra, a qual faz sentido invocar Maiakovski: “A arte não é um espelho para refletir o mundo, mas um martelo para forjá-lo”.

Prolongamentos. As palavras de Maiakovsvki remetem a possíveis leituras, conexões e descobertas mais que pertinentes, permeando toda a mostra. A sensibilidade elaborada é contaminada pela profundidade imaginativa, o pensamento e a capacidade de instigar outras interpretações. O espanto perpassando pelo não apresentado num mundo de aparências indelicadas, a necessidade de um Neo-Humanismo.

Sedento de variações e configurações contextuais de boa qualidade. Neo-Humanismo nas extremidades de uma bigorna. A possibilidade latente de recolocar a imaginação no seu devido lugar: que retrata, acolhe ou rejeita qualquer tentativa de esvaziar cada vez mais a expressão/expansão de valores que acrescentam significados promissores do encontro da imagem com a palavra, unidade indissociável. Do encontro do homem consigo mesmo. Do ponto de vista artístico, pleno de sapiência nas Convergências aditivadas, lúcidas e primorosas de Tchello d´Barros.

* José Aloise Bahia (Belo Horizonte/MG/Brasil). Jornalista, escritor, pesquisador, ensaísta, colecionador de artes plásticas e crítico de literatura e artes visuais

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